Em 1992, a intriga familiar tornou pública acusações de corrupção e ataques pessoais, escandalizando o país e culminando na renúncia de Fernando
Wallacy Ferrari Publicado em 30/12/2022, às 10h00 - Atualizado em 29/12/2023, às 10h08
A edição de maio de 1992 da revista Veja talvez carregue uma das mais importantes entrevistas da história da publicação. Na capa, estampava um homem de olhar sério contra o leitor que via a imagem nas bancas e, em letras garrafais, anunciava que "Pedro Collor conta tudo".
O tal "tudo" era uma compilação de declarações, feitas no intervalo de duas horas com a visita do irmão do presidente na redação da editora ao jornalista Luís Costa Pinto, realizando ataques pessoais e profissionais contra o irmão e então presidente da República, Fernando Collor de Mello.
Entre as declarações, acusava o tesoureiro de campanha do parente, PC Farias, de montar uma rede de caixa 2 para desviar recursos de licitações e outros órgãos estatais, com conhecimento do chefe de estado, acusado-o de receber uma parte.
Contudo, feria também a imagem pública do irmão, apontando que ele usou de uma crise marital de Pedro com a esposa Thereza para se aproximar da cunhada. Além disso, acrescentando que Fernando teria tido acesso a drogas durante a juventude. As denúncias contribuíram para o impeachment de Collor há exatos 31 anos, em 29 de dezembro de 1992.
Tal entrevista despertou na imprensa nacional em saber o que mais Pedro tinha a dizer, o mobilizando a escrever um livro com detalhes sobre o convívio com o irmão, além de conceder entrevistas a emissoras de televisão, em especial, com uma participação histórica no programa 'Roda Viva', da TV Cultura, enaltecendo que o racha entre irmãos foi motivado, principalmente, pela interferência de Fernando em seus negócios no ramo da comunicação, em Alagoas.
De acordo com ele, então administrador das organizações Arnon de Mello, seu jornal, o Gazeta de Alagoas, sofria com tentativas de destruição do irmão, que tentava criar um concorrente chamado Tribuna de Alagoas, que ainda seria impresso na Imprensa Oficial do Estado, além de interferir na perda de duas concessões de rádio.
As provas atribuídas nas declarações foram suficientes para a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, popularmente conhecida pela sigla CPI, tramitando por meses e com o surgimento de registros telefônicos entre Collor e PC, além de novos depoimentos, contrastando com as promessas da campanha presidencial, conduzida pela chamada "caça aos marajás", ou seja, aos "encostados" dos serviços públicos, manifestando ser anticorrupção.
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Para a imagem de Pedro, por outro lado, o desprezo familiar; a mãe dos rapazes, Leda, preferiu se aproximar do filho presidente. Restou a Pedro a esposa, Thereza, que tornou-se um símbolo ao ser relatada como o estopim pela denúncia, estampando capas de revistas, inclusive de comportamento e moda.
Fernando fazia questão de classificar o irmão como incoerente e, até mesmo, portador de problemas de saúde mental, fato negado por Pedro ainda na primeira entrevista à Veja: "Nunca fiz tratamento psiquiátrico ou psicanálise. Essa pressão toda tem um objetivo claro. O objetivo foi passar para a opinião pública a sensação de não tenho credibilidade, que estou sob forte comoção".
O processo de impeachment contra Fernando Collor resultou, na manhã do dia 29 de dezembro de 1992, em seu pedido de renúncia, lido pelo advogado do presidente na Câmara dos Deputados e, pedindo a palavra, lia uma carta endereçada ao então presidente da Congresso, Mauro Benevides. Também marcava o fim das relações entre os irmãos, já que ambos saíram prejudicados pelos próprios em seus respectivos negócios.
Visto que a sessão do impeachment já havia começado, a vacância do cargo foi declarada, mas a votação continuou, definindo a inelegibilidade do político por oito anos. Inocentado das acusações de corrupção passiva pelo Supremo Tribunal Federal, Fernando preferiu viver por um período na Casa da Dinda, posteriormente se mudando os Estados Unidos com a então esposa Rosane.
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Pedro se manteve em Alagoas e usou a fama antagônica para candidatar-se a deputado estadual pelo PRP, em 1994, como noticiou a Folha de S. Paulo na época, manifestando evitar críticas ao irmão após derrubá-lo do cargo máximo do Poder Executivo: "Isto não contribuiria em nada, pois não posso ficar olhando para o passado. Chega de emoção", disse ao veículo.
Contudo, sua trajetória colidiria justamente com a decisão do STF; na semana em que Fernando foi absolvido, Pedro faleceu, aos 42 anos, um mês após ser internado para tratar um tumor cerebral.
De acordo com a Folha, uma missa conjunta para celebrar a absolvição e prestar condolências após a morte do irmão foi feita em Brasília, antes do ex-presidente se mudar para Miami.
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