Em 1978, o cardeal dom Aloísio Lorscheider, foi o primeiro a receber os dois terços dos votos necessários para ser eleito pontífice
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 07/05/2025, às 18h10 - Atualizado em 09/05/2025, às 18h30
Sete cardeais brasileiros participaram do conclave que elegeu o novo papa, com direito a voto e também com a possibilidade de serem eleitos. Embora o Brasil nunca tenha tido um pontífice, a história da Igreja Católica guarda um episódio notável em que um brasileiro esteve muito próximo de assumir o trono de São Pedro — e recusou.
No ano de 1978, durante o conclave que se seguiu à morte do papa João Paulo I, o cardeal dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza, foi o primeiro a receber os dois terços dos votos necessários para ser eleito papa.
No entanto, ao ser consultado, dom Aloísio recusou o cargo, citando problemas de saúde. Na época, ele havia passado por uma cirurgia cardíaca e tinha oito pontes de safena.
A história foi relembrada recentemente por Frei Betto em um artigo publicado em seu site. Segundo o relato, dom Aloísio temia repetir o drama vivido com João Paulo I, cujo papado durou apenas 33 dias. Receoso de que sua saúde não permitisse liderar a Igreja por muito tempo, recusou o chamado e articulou junto aos colegas para não ser votado novamente.
De acordo com o livro Papa João Paulo 2º — A Biografia, do jornalista americano Tad Szulc, o conclave havia chegado a um impasse. Foi então que dom Aloísio atuou nos bastidores, mobilizando votos de cardeais latino-americanos e africanos em favor do cardeal polonês Karol Wojtyla, que acabou eleito e tornou-se João Paulo II. Ele lideraria a Igreja por 26 anos, até sua morte em 2005.
Dom Aloísio Lorscheider morreu em 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre, aos 83 anos, após quase um mês internado com falência múltipla dos órgãos. Nascido em Estrela (RS) e neto de alemães, foi uma das figuras mais influentes da Igreja na América Latina.
Além de arcebispo de Fortaleza e posteriormente de Aparecida, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Em 1976, foi nomeado cardeal pelo papa Paulo VI.
O episódio de sua recusa permanece como um dos momentos mais emblemáticos da história recente da Igreja — e uma lembrança de que o Brasil já esteve mais perto do papado do que muitos imaginam.
