Novo estudo de DNA com crânio do "Homem Dragão" o relaciona a grupo enigmático de humanos primitivos conhecidos como denisovanos; entenda!
Publicado em 19/06/2025, às 11h01
Em 2018, um crânio humano enigmático recuperado do fundo de um poço no nordeste da China chamou grande atenção por não corresponder a nenhuma espécie conhecida de humanos pré-históricos. Só agora, cientistas acreditam ter encontrado evidências de onde esse fóssil se encaixa, ajudando a compreender mais detalhes sobre a evolução humana.
Conforme repercute a CNN Brasil, o crânio foi descoberto por um operário da cidade de Harbin, no nordeste da China, em 1933, quando trabalhava na construção de uma ponte sobre o rio Songhua. Ele acabou levando o espécime para casa, e o escondeu no fundo de um poço para mantê-lo seguro — e nunca mais o recuperou.
O crânio, que ainda contava com um dente preso na arcada superior, seguiu desconhecido por décadas, até que, pouco antes da morte do homem que o encontrou, seus familiares souberam da existência do fóssil. Eles então doaram a peça à Universidade GEO de Hebei, e ele foi descrito pela primeira vez em um estudo publicado em 2021, que datou o crânio de pelo menos 146.000 anos atrás.
Nessa época, os pesquisadores argumentaram que aquele exemplar deveria ser classificado como uma nova espécie humana, sendo assim batizado de Homo longi — derivado da província em que foi encontrado, Heilongjiang, ou "Rio do Dragão Negro". Outros especialistas, no entanto, sugeriram que o crânio pode ter pertencido a um denisovano, antigo grupo de humanos descrito pela primeira vez em 2010, após a descoberta de um fragmento de dedo encontrado na Caverna Denisova, nas Montanhas Altai, na Rússia.
Após várias tentativas, só recentemente pesquisadores conseguiram extrair material genético do crânio em questão. Na nova pesquisa, descrita em dois artigos publicados nesta quarta-feira, 18, a professora do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim e principal autora, Qiaomei Fu, finalmente conseguiu "esclarecer parte do mistério em torno dessa população".
No primeiro dos artigos, publicado na Revista Cell, Fu e seus colegas extraíram o DNA antigo de seis amostras retiradas do dente preservado do Homem Dragão e do osso petroso do crânio. Eles só conseguiram recuperar material genético a partir do cálculo dental, uma camada de resíduos que se forma nos dentes ao longo do tempo e pode preservar DNA da boca.
Nesse processo, os cientistas conseguiram recuperar DNA mitocondrial que, embora seja menos detalhado que o DNA nuclear, já era suficiente para revelar uma ligação entre a amostra e o genoma conhecido dos denisovanos.
"O DNA mitocondrial representa apenas uma pequena parte do genoma total, mas pode nos contar muita coisa. As limitações estão no seu tamanho relativamente pequeno em comparação com o DNA nuclear e no fato de que ele só é herdado pela linha materna, não dos dois pais biológicos", explicou à CNNRyan McRae, paleoantropólogo do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, que não participou dos estudos.
"Por isso, sem o DNA nuclear, poderia ser levantada a hipótese de que esse indivíduo fosse um híbrido com uma mãe denisovana, mas eu acho que esse cenário é bem menos provável do que a possibilidade de o fóssil pertencer a um denisovano completo", acrescenta.
Já no segundo estudo, publicado na revista Science, a equipe também conseguiu recuperar fragmentos de proteínas das amostras do osso petroso, que também sugeriu que o crânio em questão pertencesse a uma população denisovana. Assim, "essas pesquisas aumentam o peso da identificação do crânio de Harbin como denisovano", explica Fu.
Agora, com o crânio do Homem Dragão sendo relacionado aos denisovanos, fica mais fácil aos paleoantropólogos classificar outros possíveis restos denisovanos encontrados na China e em outras regiões do mundo. Os pesquisadores também consideram provável que os denisovanos sejam nomeados oficialmente como Homo longi, embora provavelmente o termo "denisovanos" continuará como um apelido popular — da mesma forma como o termo "neandertal" é para o Homo neanderthalensis.
"Renomear todo o conjunto de evidências denisovanas como Homo longi é um passo importante, mas que tem fundamento, já que esse nome científico foi tecnicamente o primeiro a ser agora vinculado a fósseis denisovanos", afirma McRae.
De qualquer forma, as novas descobertas são um passo importante para os estudos científicos conhecerem mais sobre a aparência dos denisovanos, que provavelmente tinham sobrancelhas muito proeminentes, um cérebro com tamanho comparável ao dos neandertais e humanos modernos, mas com dentes maiores que ambos os primos.
"Assim como na famosa imagem de um neandertal vestido com roupas modernas, eles ainda seriam facilmente reconhecidos como 'humanos'", destaca McRae. "Eles continuam sendo nossos primos mais misteriosos — apenas um pouco menos misteriosos do que antes. Ainda há muito trabalho a fazer para entender exatamente quem foram os denisovanos e como eles se relacionam conosco e com outros hominídeos".