Após a queda do Império com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a família imperial foi impedida de retornar ao Brasil
Após a queda do Império com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a família imperial foi expulsa e impedida de retornar ao Brasil. A Lei do Banimento, sancionada pelo governo republicano em 1890, proibiu formalmente a presença dos membros no país.
O decreto exilou a família de Dom Pedro II e determinou a perda de seus direitos políticos, consolidando a nova ordem republicana. No entanto, ao longo das décadas, um membro da monarquia tentou voltar ao Brasil.
A historiadora Mary del Priore relembra esse período histórico em seu livro "Segredos de uma Família Imperial", publicado pela Editora Planeta. Na obra, Priore faz uso de uma base documental e depoimentos para analisar a trajetória dos Orleans e Bragança após a deposição de Dom Pedro II, detalhando como a família lidou com o exílio forçado e suas aspirações de restabelecimento no Brasil.
Em entrevista ao site Aventuras na História, Priore compartilhou detalhes sobre as tentativas de retorno de Luiz de Orleans e Bragança, herdeiro da coroa, que buscou se aproximar dos monarquistas brasileiros em uma tentativa de restaurar o regime.
Segundo a historiadora, Luiz "era realmente a promessa, tanto paro avô, quanto para mãe e paro pai, de uma possibilidade de restauração monárquica no Brasil".
Com o apoio de diretórios monárquicos, especialmente o do Rio de Janeiro, que tinha ligações com o Conde d'Eu, ele decidiu fazer uma viagem ao Chile. Porém, sua verdadeira intenção era voltar ao Brasil.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, em 1907, não pôde desembarcar, pois a República não permitiu. Apesar disso, foi recebido por uma multidão de monarquistas e curiosos no cais, muitos deles ligados à sua família. Entre aqueles presentes, havia até um antigo criado, que o levava para tomar banho de mar quando criança, conta Priore.
Após o episódio no Rio, Luiz seguiu para Santos, onde também foi bem recebido, embora houvesse divisões dentro do próprio partido monarquista. Isso porque, conforme explica a historiadora, o partido queria alguém com o perfil “mais calmo e sereno” de Dom Pedro II, enquanto Luiz tinha uma visão de transformar o Brasil em uma "monarquia republicana", com apoio militar e um projeto social de integração das camadas mais pobres.
Os monarquistas mais velhos, principalmente do Rio, não concordavam com suas ideias. Para eles, “o foco deveria ser a repatriação dos restos mortais da família imperial”, além de “uma postura mais formal”.
Após seu retorno à Europa, Luiz “tomou uma bronca do pai”, destaca a historiadora. Ele não concordava com sua postura e defendia que deveria ter feito uma visita discreta, sem se apresentar como pretendente ao trono. A imprensa brasileira também não foi gentil, aproveitando o momento para atacar a família Bragança e a tentativa de restauração.
Priore menciona que a tentativa de restauração na França, poucos anos antes, trouxe um certo desgaste à imagem da monarquia no Brasil. “Luiz percebeu que, se quisesse realmente uma restauração, precisaria de um plano mais elaborado e amadurecido, especialmente no trato com os monarquistas mais conservadores”, explica Priore.