Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Literatura

A literatura do cotidiano e as cartas na manga

Entenda como a literatura do cotidiano ainda é necessária num mundo acelerado

José Paulo Alves Fusco* Publicado em 20/06/2025, às 17h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Imagem ilustrativa - Getty Images
Imagem ilustrativa - Getty Images

Pode-se dizer que a literatura de hoje representa a evolução natural de nossas mais antigas tradições orais, desde os antigos contadores de histórias e desenhistas das cavernas.

A palavra, por sua vez, representa a matéria-prima básica de tudo o que merece ser narrado e tenha algum interesse para a sociedade humana. Permite gerar formas de expressão artística que utilizam a linguagem na forma escrita, oral ou mesmo visual (p.ex. peças de teatro) e para criar obras que transmitam cultura, emoções e ideias.

Podemos então dizer que a literatura trabalha com os sentidos, os sons e o poder de sugestão das palavras.

Literatura como formação do pensamento

Desde o início dos tempos humanos, a literatura tem sido fundamental para a formação do pensamento do homem, permitindo-lhe conhecer e entender experiências de outros, as razões de outras pessoas, bem como refletir sobre os caminhos que movem o nosso mundo.

Desse modo aí estão, em minha opinião, os objetivos mais importantes da literatura, quais sejam o de estimular a imaginação e o de subsidiar a capacidade de reflexão.

Como consequência, a literatura tem sido um fator de grande importância, em função de sua capacidade de influenciar e conferir poder de análise às pessoas, além de subsidiar tomadas de decisões em todos os níveis da sociedade.

Em paralelo, temos experimentado uma necessidade imperiosa de tempo, porque hoje as coisas vêm e vão a uma velocidade espantosa, o que causa uma sensação de sempre estarmos ficando para trás em relação aos acontecimentos.

Evolução tecnológica

Devido à exponencial evolução tecnológica e o poder dos atuais meios de difusão das informações de modo geral, da velocidade com que estas são transmitidas através das chamadas redes sociais, a notícia de hoje já carrega um grau agudo de obsolescência. Há um certo tempo, era comum lermos jornais com notícias do dia anterior.

Hoje, no entanto, tomamos conhecimento dos fatos em escala global quase que instantaneamente e, muitas vezes, não sabemos exatamente o que fazer e como utilizar tais informações.

As redes sociais induzem as pessoas a uma forma de raciocinar não-estruturada, caótica, muito diferente dos sistemas de ensino que temos utilizado. Entramos na internet em busca de algo, mas os sistemas nos induzem a mudarmos constantemente os nossos caminhos de pesquisas, levando-nos a um final bastante diverso do que pretendíamos no princípio.

Tal fenômeno, por si, sugere a necessidade de adotarmos uma maior disciplina na busca da informação e um foco cada vez mais agudo em relação ao que desejamos saber, prática esta que, infelizmente, é pouco adotada e ensinada nas escolas.

Carta na manga

A obtenção, análise, criação e difusão das informações, pela enorme importância estratégica hoje em dia nas esferas de poder, principalmente político, tem feito crescer uma preocupação que muitos nem sonhavam em um passado não tão longe.

O uso das informações, de modo geral, tem trazido “embutido” algum viés de quem as patrocina, de quem as obtém, em função dos grupos de interesses maiores em nível mundial.

[Colocar ALT]
Capa do livro 50 Tons de Vida - Divulgação

Desse modo, nos tempos atuais caminhamos sempre com um certo grau de incerteza quanto à integridade de tudo o que nos é colocado como verdade. Até onde isso vai nos levar é uma incógnita cada vez mais difícil de equacionar, devido às crescentes complexidades dos sistemas sociais e suas interrelações.

No entanto, lembro-me dos anos em que trabalhei na cidade de São Paulo, das muitas perplexidades que lá colhi durante o exercício de minhas atividades. Estão bem vivos em minha memória alguns dos personagens que lá pude observar.

Um dos fatos mais interessantes que testemunhei, foi justamente a capacidade de adaptação das pessoas. Notei que muitos indivíduos, ao fazer uso intensivo e mais demorado dos metrôs da cidade, levavam um livro para ler durante o período de duração das viagens.

Como não havia internet disponível nos trens, colocavam suas capacidades de entendimento em ação do jeito que podiam... livros de papel. Do mesmo modo nos ônibus, porque os solavancos dos trajetos impossibilitavam a leitura fácil das palavras miúdas exibidas nos celulares.

Creio que nós todos temos sempre uma “carta na manga”, que fazemos uso na medida das nossas necessidades. A questão que se coloca é “quais cartas na manga têm as sociedades humanas atuais?”.


*José Paulo Alves Fusco é professor de Graduação e Pós-graduação na UNESP (Universidade Estadual Paulista) e UNIP (Universidade Paulista), Presidente da ABL – Academia Bauruense de Letras biênio 2022 2023, onde ocupa a cadeira de número 40. Algumas de suas principais publicações são: Lembranças de um Legionário, Gládio de Sangue, O Amor em Movimento, A Superação pelo Amor, A Espada e a Fé, entre outros. Agora ele lança “50 Tons de Vida”, em que transforma memórias, afetos e quedas em uma aquarela literária sobre o humano em sua essência errante.

OSZAR »