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O papel soviético na 2ª Guerra: Do pacto de não-agressão a libertação de Auschwitz

Em 27 de janeiro de 1945, Exército Vermelho libertou o campo de concentração de Auschwitz, mas no início do conflito URSS e nazistas assinaram acordo

Redação Publicado em 26/02/2025, às 14h00

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Tropas soviéticas conta-atacando os alemães - Domínio Público
Tropas soviéticas conta-atacando os alemães - Domínio Público

A data de 27 de janeiro é atualmente lembrada como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, instituído pela ONU em 2005 por meio da Resolução 60/7.

O objetivo da comemoração é homenagear as vítimas do nazismo e reforçar o compromisso global com a memória do Holocausto. A resolução também incentiva os Estados-membros a promoverem programas educacionais sobre o Holocausto, como uma estratégia para prevenir futuros genocídios.

Judeus do campo de concentração de Auschwitz - Getty Images

A data escolhida marca a libertação do maior complexo de campos de concentração e extermínio criado pelo regime nazista, Auschwitz-Birkenau, pelas forças soviéticas em 1945. Portanto, ao falarmos do 27 de janeiro, indiretamente, estamos tratando, também, do papel da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) diante da Segunda Guerra e do Holocausto.

A URSS na visão de mundo nazista

Desde a sua fundação, o movimento nazista retratava a União Soviética como um inimigo inevitável. Essa hostilidade estava profundamente enraizada na ideologia nacionalista e racial nazista, que sustentava três premissas principais:

1. O conceito de "espaço vital" (Lebensraum): parte das terras soviéticas deveria ser ocupada e colonizada por alemães, garantindo os recursos e territórios necessários para que a Alemanha triunfasse na sua luta por supremacia sobre outras “raças”.

2. A associação entre comunismo e judaísmo: o nazismo propagava a ideia de que o comunismo bolchevique era uma criação judaica destinada a impor uma dominação global, uma teoria conspiratória que Hitler e seus seguidores chamavam de "judaico-bolchevismo".

3. A hierarquia racial: os eslavos e outros grupos étnicos da União Soviética eram considerados racialmente inferiores, destinados, segundo a ideologia nazista, a serem subjugados ou eliminados pela "raça ariana", que, na visão nazista, deveria governar o mundo.

O pacto Molotov-Ribbentrop

O historiador Laurence Rees (2020) destaca queStalin era o maior inimigo ideológico deHitler. Antes da guerra, o líder nazista demonstrou interesse em estabelecer uma aliança com a Grã-Bretanha e, posteriormente, em contar com a cooperação da Polônia para uma eventual guerra contra a URSS.

No entanto, essas alianças nunca se concretizaram. Apesar da inevitabilidade do conflito entre nazistas e soviéticos, com o objetivo de reduzir o número de nações adversárias, a Alemanha nazista enviou Joachim von Ribbentrop, então Ministro de Relações Exteriores do Reich, a Moscou, onde negociou com Viatcheslav Molotov, Ministro das Relações Exteriores da URSS, um pacto de não agressão com Stalin, assinado pelos dois países em 23 de agosto de 1939.

O líder soviético Josef Stalin - Getty Images

O Pacto Nazi-Soviético, também conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop, era composto por duas partes: uma pública e outra secreta.

A parte pública estabelecia um acordo de não-agressão em que os dois países se comprometiam a não se atacar por um período de dez anos. Já a parte secreta determinava a divisão do leste da Europa em esferas de influência alemã e soviética, incluindo um acordo para repartir a Polônia entre os dois países.

Nesse contexto, a parte oriental da Polônia foi prometida aos soviéticos. Na prática, o pacto previa a dissolução da Polônia como Estado soberano, apagando o país do mapa.

O pacto também foi conveniente para Stálin, que estava ciente de que o Exército Vermelho não estava preparado para enfrentar uma guerra contra a Alemanha, especialmente após o Grande Expurgo (1936-1938), durante o qual uma grande parte da liderança militar soviética foi eliminada por ordem do regime ditatorial de Stálin.

A obra de Cesar Benjamin (2020) destaca que entre 1937 e 1938 teriam sido expurgados 3 dos cinco marechais, 13 dos 15 comandantes do Exército, 57 dos 85 comandantes de Corpos, 110 dos 195 comandantes de Divisão e 220 dos 406 comandantes de Brigada.

Após a assinatura do acordo em 23 de agosto, as tropas alemãs invadiram a Polônia em 1º de setembro, sem temer uma intervenção soviética. Em resposta às agressões, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro. Em menos de seis semanas, o exército polonês foi completamente derrotado.

Além da evidente superioridade militar alemã, Ress (2020) destaca que a derrota polonesa também foi influenciada pela ajuda indireta e inesperada dos inimigos ideológicos dos nazistas: os soviéticos. Em conformidade com o pacto assinado menos de um mês antes, as tropas soviéticas invadiram a Polônia pelo leste em 17 de setembro de 1939.

O historiador Laurence Rees aponta que, em Moscou, os alemães e os soviéticos decidiram, em espírito de camaradagem, pôr de lado as diferenças ideológicas para discutir os detalhes da divisão da Polônia.

Joachim von Ribbentrop, ministro do Exterior alemão, e Vyacheslav Molotov, ministro do Exterior soviético, celebraram o acordo com um extravagante banquete no Salão Andreevsky do Kremlin, em 27 de setembro de 1939. Durante o evento, Molotov levantou sua taça e brindou: “Um viva à Alemanha, ao seu Führer e ao seu ministro do Exterior!”

A partir desse momento, a Polônia se tornaria o epicentro do Holocausto, com os nazistas construindo em solo polonês os maiores campos de extermínio, incluindo o complexo de Auschwitz-Birkenau. O historiador Raul Hilberg estima que cerca de seis milhões de pessoas que viviam na Polônia perderiam a vida durante o conflito, sendo metade desse número composta por judeus poloneses. Dos aproximadamente 3,3 milhões de judeus que viviam na Polônia antes da guerra, apenas cerca de 300 mil sobreviveriam.

A Operação Barbarossa

Em julho de 1940, a Alemanha já havia ocupado a Dinamarca, a Noruega, a Bélgica e os Países Baixos, além de ter derrotado a França. Em 18 de dezembro de 1940, Hitler assinou a ultrassecreta Diretiva 21, conhecida pelo codinome Operação Barbarossa, que planejava a invasão da União Soviética.

Stalin, entretanto, rejeitou a possibilidade de um ataque nazista à URSS e não mobilizou suas tropas, acreditando que tal atitude poderia evitar o conflito armado. Essa decisão, porém, acabou por estimular Hitler a seguir com seus planos.

Adolf Hitler em 1936 - Getty Images

Os nazistas planejaram a Operação Barbarossa como uma “guerra relâmpago” (Blitzkrieg) destinada a derrotar os soviéticos em poucas semanas. Durante meses, os alemães realizaram extensas manobras de desinformação, levando os soviéticos a acreditar que sua movimentação militar no leste estava relacionada ao esforço de guerra contra a Inglaterra. Isso permitiu à Alemanha deslocar mais de 100 divisões para o front oriental sem provocar qualquer reação de Stalin.

Na madrugada de 22 de junho de 1941, menos de dois anos após o Pacto Nazi-Soviético, os territórios soviéticos foram invadidos de surpresa. Mais de três milhões de soldados alemães, com o apoio de meio milhão de tropas aliadas da Finlândia, Romênia, Hungria, Itália, Eslováquia e Croácia, lançaram um ataque massivo que se estendeu do Mar Báltico, ao norte, até o Mar Negro, ao sul.

Nos primeiros meses, o Exército Vermelho sofreu derrotas devastadoras. Milhões de soldados soviéticos foram capturados, milhares de aviões e tanques foram destruídos, e os alemães avançaram rapidamente pelo território soviético.

Hitler e os altos comandos militares alemães conceberam a campanha contra a União Soviética como uma “guerra de aniquilação”, visando destruir o governo comunista, descrito por eles como controlado pelos "judeus-bolcheviques", e exterminar milhões de cidadãos soviéticos, especialmente judeus.

No entanto, o elemento surpresa e o ataque inicial massivo não foram suficientes para garantir a vitória que os nazistas planejavam alcançar em apenas três meses. A resistência soviética, combinada com os desafios logísticos enfrentados pelos alemães em um território vasto, começou a frustrar os planos alemães.

A derrota em Stalingrado (1942-1943) foi o ponto de virada do conflito. Após essa vitória decisiva, os soviéticos iniciaram uma série de ofensivas bem-sucedidas, culminando na vitória na Batalha de Kursk (1943), a maior batalha de tanques da história, que consolidou a vantagem estratégica do Exército Vermelho.

Outro fator crucial foi o rigoroso inverno russo, que afetou severamente as forças alemãs. Sem equipamentos e roupas adequados, as tropas nazistas enfrentaram temperaturas extremas, que chegaram a -30°C, dificultando suas operações e permitindo que os soviéticos organizassem contraofensivas eficazes.

A libertação de Auschwitz

Em suas operações militares no território europeu, durante uma série de ofensivas contra a Alemanha nazista, as tropas Aliadas encontraram dezenas de milhares de prisioneiros em campos de concentração. As forças soviéticas foram as primeiras a chegar a um grande campo nazista, Majdanek, próximo à cidade de Lublin, na Polônia, em julho de 1944. Essa descoberta revelou ao mundo as dimensões dos horrores perpetrados pelos nazistas.

Nos meses seguintes, ainda em 1944, os soviéticos também chegaram aos campos de extermínio de Belzec, Sobibor e Treblinka, que haviam sido demolidos pelos alemães em 1943, após a maior parte dos judeus poloneses já ter sido assassinada como parte da Operação Reinhard.

Em 27 de janeiro de 1945, os soviéticos libertaram Auschwitz, o maior e mais notório dos campos de concentração e extermínio. Essa libertação revelou o ápice das atrocidades nazistas, incluindo as câmaras de gás e os milhões de mortos, tornando-se um marco simbólico na luta contra o genocídio.

Sobreviventes de Auschwitz deixando o campo no final da Segunda Guerra Mundial - Getty Images

Como aponta Ress (2020), a centralidade de Auschwitz na memória do Holocausto é praticamente onipresente. O 27 de janeiro tornou-se uma data de memória global, oficializada como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Essa data reflete o desenrolar de processos históricos e exige, ao ser abordada, não apenas a promoção da conscientização sobre os horrores do Holocausto, mas também uma reflexão crítica sobre como decisões de líderes políticos podem ter influenciado eventos que, à primeira vista, parecem desconectados, como o destino de milhões de judeus europeus.

Nesse sentido, refletir sobre o papel da URSS significa reconhecer tanto sua contribuição decisiva para a derrota dos nazistas e a libertação dos campos quanto analisar criticamente como episódios como os Grandes Expurgos e o Pacto Nazi-Soviético impactaram os desdobramentos históricos subsequentes.

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