Polêmica em relação à cor do novo uniforme da Seleção brasileira ascendeu debate político, mas a história do Brasil possui o vermelho em sua raiz
Vítor Soares, professor de História Publicado em 29/04/2025, às 15h00 - Atualizado em 06/05/2025, às 08h03
Hoje, a Seleção Brasileira entra em campo usando uniforme vermelho. E, honestamente, acredito que seja uma excelente escolha.
Não se trata de ideologia política, muito menos de uma provocação. A camisa vermelha é, na verdade, uma oportunidade rara: a chance de contar uma outra parte da nossa formação nacional que costuma ser esquecida — ou, pior ainda, ignorada.
As cores verde e amarela que conhecemos foram uma escolha influenciada pela Europa e não traduzem totalmente nossa realidade histórica e cultural. O verde representa a Casa de Bragança, de Dom Pedro I; o amarelo, a Casa de Habsburgo, de Dona Leopoldina. São símbolos ligados à monarquia europeia, não às raízes do Brasil.
Simbolicamente, essas cores remetiam mais à monarquia, à nobreza e às alianças internacionais do que ao povo brasileiro, às florestas, à terra ou às culturas que aqui já existiam muito antes da chegada dos portugueses. Se pensássemos numa cor que verdadeiramente traduzisse o Brasil, seria o vermelho.
O nome "Brasil" vem da árvore que, no início da colonização, foi o primeiro grande produto de exportação: o pau-brasil. Uma madeira de coloração avermelhada, altamente valorizada na Europa.
É bem conhecido que a palavra "Brasil" vem do pau-brasil. O que pouca gente sabe é a origem do nome "pau-brasil".
Entre os povos tupis que habitavam o litoral brasileiro, a árvore era chamada de ibirapitanga, que significa literalmente "árvore vermelha" (ibira: árvore, pitanga: vermelho).
A cor vermelha era uma referência direta ao cerne da madeira, que fornecia uma tinta avermelhada usada para tingir tecidos — um produto muito cobiçado na Europa.
Quando os colonizadores portugueses começaram a extrair o pau-brasil, perceberam a semelhança entre a cor da madeira e a brasa incandescente. Assim, o nome Brasil tem também essa segunda raiz: "vermelho como brasa".
Portanto, o vermelho não é apenas uma cor ligada ao pau-brasil: ele está entranhado no próprio batismo do nosso país. Vestir uma camisa vermelha hoje não é apenas uma decisão estética, é também um gesto simbólico, que resgata a origem do nome da seleção — e, por consequência, da nossa própria identidade nacional.