Novo estudo explica como animal do período Jurássico conseguia voar enquanto muitos de seus parentes não-avianos permaneciam presos ao solo
Um artigo publicado nesta quarta-feira, 14, na revista Nature descreve um conjunto de penas jamais visto no fóssil do dinossauro Archaeopteryx, esclarecendo como esse animal conseguia voar enquanto muitos de seus parentes não-avianos permaneciam presos ao solo. Segundo o The New York Times, as evidências sugerem que ele voava de modo semelhante a uma galinha, planando apenas por curtas distâncias.
O espécime — hoje parte da coleção do Field Museum, em Chicago — foi encontrado em 1861 nos depósitos de calcário de Solnhofen, na Alemanha. À época, o esqueleto fossilizado ofereceu uma prova crucial para a teoria da evolução de Charles Darwin, além de confirmar que as aves descendem de dinossauros.
Desde que chegou ao Field Museum, em agosto de 2022, o fóssil passou por novos exames, culminando no estudo liderado por Jingmai O’Connor, curadora de répteis fósseis da instituição.
Do tamanho de um pombo, o Archaeopteryx viveu há cerca de 150 milhões de anos, no Jurássico. De acordo com o portal Galileu, a preservação excepcional do exemplar — com tecidos moles nas mãos e nos pés — indica que ele passava bastante tempo caminhando no solo e talvez escalasse árvores. Seus ossos ocos e diminutos estão fixos em uma placa de calcário extremamente dura. Por isso a equipe removeu a rocha circundante com extremo cuidado para não danificar a peça.
Embora não tenha sido o primeiro dinossauro a exibir penas ou asas, o Archaeopteryx é considerado o mais antigo capaz de usá-las para voar. Ainda assim, seu desempenho aéreo era limitado.
O’Connor ressalta que o braço longo do animal criava uma lacuna entre as penas primárias e secundárias, prejudicando a geração de sustentação. As penas terciárias — presentes na parte superior do braço e ausentes em dinossauros emplumados que não voavam — reforçam que a capacidade de voo surgiu mais de uma vez na linhagem dos dinossauros.
Para desvendar esses detalhes, os pesquisadores recorreram à tomografia computadorizada, que produz imagens 3D a partir de raios-X, e à luz ultravioleta, evitando a remoção inadvertida de tecidos moles.
As análises concentraram-se na cabeça, nas extremidades e nas asas. A estrutura óssea do palato, por exemplo, fornece pistas sobre a cinésia craniana — a mobilidade do bico em relação ao crânio —, característica que pode ter permitido às aves modernas assumir inúmeros nichos ecológicos e se diversificar em mais de 11 mil espécies.