Nova hipótese que pode explicar por que os neandertais desapareceram por completo está ligada a fenômeno ocorrido há 41 mil anos; entenda!
Publicado em 22/04/2025, às 06h00 - Atualizado em 24/04/2025, às 17h59
Uma pesquisa publicada na revista Science Advances esclareceu detalhes sobre uma das questões mais duradouras da antropologia: por que os neandertais, nossos parentes humanos extintos mais próximos, desapareceram completamente há cerca de 40.000 anos.
Teorias anteriores apontam para mudanças climáticas, competição por recursos e cruzamentos com Homo sapiens como possíveis causas. No entanto, o novo estudo propõe que nossos ancestrais podem ter tido uma vantagem crucial: o uso de proteção solar — incluindo roupas personalizadas, cavernas como abrigo e o uso de ocre — durante um período de radiação solar e cósmica excepcionalmente intensa.
Essa hipótese está ligada a um fenômeno conhecido como excursão geomagnética de Laschamps, ocorrido há cerca de 41.000 anos, quando o campo magnético da Terra — nossa principal defesa contra a radiação espacial — se enfraqueceu drasticamente. Durante esse período, o campo era apenas 10% tão forte quanto o atual, o que permitiu que mais radiação cósmica atingisse a superfície terrestre e provocou auroras visíveis em latitudes incomuns, inclusive sobre a Europa.
Para investigar os efeitos desse evento, uma equipe internacional de pesquisadores recriou, em modelos tridimensionais, a atmosfera superior da Terra e o ambiente espacial próximo durante a excursão de Laschamps. Os resultados indicam que a radiação ionizante aumentou significativamente, representando riscos à saúde humana.
Segundo os autores, os Homo sapiens podem ter respondido a esse ambiente hostil adotando comportamentos adaptativos — como o uso de roupas de proteção e maior permanência em cavernas — e intensificando o uso do ocre, um mineral que estudos indicam possuir propriedades semelhantes às de protetores solares modernos.
“Houve alguns testes experimentais que mostram que [o ocre] tem propriedades semelhantes às do protetor solar. É um protetor solar bastante eficaz, e também existem populações etnográficas que o usaram principalmente para esse fim”, explica Raven Garvey, coautora do estudo e antropóloga da Universidade de Michigan, segundo a revista Smithsonian.
Essas adaptações podem ter dado ao Homo sapiens uma vantagem sobre os neandertais, que, até onde se sabe, não desenvolveram as mesmas estratégias. A diferença de comportamento, segundo os pesquisadores, pode ter contribuído para a sobrevivência de nossos ancestrais enquanto os neandertais desapareceram.
Ainda assim, nem todos os especialistas estão convencidos. Para Amy Mosig Way, arqueóloga do Museu Australiano, embora haja uma coincidência temporal entre a chegada dos humanos modernos à Europa e o evento de Laschamps, é precipitado afirmar que o uso de proteção solar foi decisivo na dominação da Eurásia.
Independentemente disso, os autores do estudo destacam que compreender como a vida resistiu a um campo magnético extremamente enfraquecido pode trazer novas perspectivas para a ciência.
"Muitas pessoas dizem que um planeta não pode sustentar a vida sem um forte campo magnético", afirma Agnit Mukhopadhyay, principal autor da pesquisa. "Olhar para a Terra pré-histórica, e especialmente para eventos como este, nos ajuda a estudar a física exoplanetária de um ponto de vista muito diferente. A vida existia naquela época. Mas era um pouco diferente do que é hoje."
+ Confira aqui o estudo completo.