Há milênios, os antigos egípcios já tinham uma cultura gastronômica rica e bastante variada, favorecida pelo solo fertilizado pelo Nilo; confira!
Publicado em 22/05/2025, às 18h00
Hoje, conhecemos pelo mundo várias culturas gastronômicas distintas, que sempre se adequam conforme às tradições de cada região, como também pela disponibilidade de recursos existentes. E desde os tempos remotos, há mais de 5 mil anos, o rio Nilo já era um ponto de escala padrão para os nômades que passavam pelo deserto do Egito.
Embora muitos pensem que, no deserto, fosse praticamente impossível plantar o suficiente para alimentar um império, foi às margens do Nilo que se estabeleceram os primeiros agricultores da história, formando o núcleo da civilização egípcia. Entre junho e setembro, o rio passava por uma cheia que, quando recuava, deixava uma camada de lodo rica em substâncias férteis, sendo assim perfeito para a plantação.
As culturas mais comuns, não só por lá mas até em várias outras civilizações, eram de cereais como cevada, trigo, farro, espelta, painço e sorgo, que serviam como base para a produção de pães. Porém, havia também pães preparados com farinha de legumes secos, como lentilhas — e, claro, a riqueza gastronômica dos faraós com certeza ia muito além.
Segundo o National Geographic, os egípcios já tinham o hábito de fazer três refeições por dia. A primeira delas consistia, geralmente, de favas cozidas e temperadas com azeite. Já ao meio-dia, era comum comer pão com vegetais crus, ou legumes e fruta. A refeição mais substancial, na verdade, era o jantar, quando também poderiam comer carnes, em especial entre os mais ricos.
E para acompanhar as refeições, a bebida mais frequente era a água do Nilo. Porém, a cerveja — obtida através da fermentação de pães de cevada pouco cozidos —também era bastante importante, servindo até mesmo como moeda de troca; e os mais ricos também tinham acesso a vinho.
Era comum que as casas egípcias possuíssem pequenas hortas domésticas, em que as famílias produziam seus próprios legumes e verduras, muitos inclusive familiares hoje, como pepino, alface, alho, cebola, nabo ou abóboras. Também se cultivava algumas ervas, como a melokhia, uma planta que provavelmente é semelhante ao espinafre.
As aristocracias, por sua vez, podiam se permitir plantar árvores frutíferas em seus jardins, como a romãzeira, a figueira, o tamarindo ou a tamareira. As tâmaras, inclusive, podiam ser consumidas frescas ou secas, ou até mesmo ser espremida e deixado para fermentar, para produzir o que chamavam de "vinho de palma".
E até mesmo aquilo que eles ainda não sabiam plantar servia de alimento. Nas margens do Nilo, cresciam algumas plantas como açofeifas e palmeiras, sicómoros (que davam frutos parecidos com o figo), alfarrobeiras, melancias e ervas silvestres, que precisavam ser colhidas.
E uma curiosidade que nem todos conhecem é que o papiro — não o utilizado para escrever, mas a planta — também podia ser consumido. Ele crescia em abundância no delta do Nilo, e era costume chupar seu talo, que era doce, quando era recém colhido.
Inclusive, o filósofo e botânico grego Teofrasto escreveu em sua obra 'História das Plantas': "o seu uso mais importante é como alimento. Cru, fervido ou assado, o papiro mastiga-se em todo o país. Extrai-se o suco e deita-se fora o resto".
Além das plantações, produtos de origem animal também eram valorizados entre os egípcios. Eles criavam ovelhas e cabras, das quais conseguiam produzir leite e queijo, e também criavam gansos e pombas para se alimentar e comer ovos — eles não conheciam as galinhas.
A carne bovina, por sua vez, era um produto bastante caro, e por isso nem todos podiam consumi-la diariamente, o que era mais acessível apenas à nobreza. Porém, naquela sociedade os bovinos já eram importantes, servindo para trabalhar no campo.
Já os porcos, tinham um papel ambíguo na sociedade. Isso porque, antes do plantio, eles eram deixados para correr pelos campos e adubar os terrenos, o que ajudava as sementes a penetrar na terra. E como eles podiam ser alimentados com restos de comida, não era complicado criá-los, além de que auxiliavam na eliminação de resíduos que poderiam estragar.
Porém, quanto a alimento, os porcos eram considerados animais impuros, tanto que aqueles que tinham contato precisavam purificar-se, mergulhando completamente no Nilo, e os criadores também eram impedidos de entrar nos templos e se casar. Porém, uma vez por ano porcos eram sacrificados à deusa Nut, e sua carne era consumida por camponeses.
Além da criação, os egípcios também caçavam animais. O povo comum podia caçar para se alimentar, mas os nobres a praticavam como entretenimento, navegando pelo rio em embarcações e capturando aves com um tipo de bastão curvo usado como arpão. Cães ou gatos de caça recolhiam as presas, e depois as entregavam ao amo.
Entre as presas mais comuns estavam as codornizes, que também poderiam ser criadas, vários tipos de pato, e até mesmo hipopótamos, órix (um tipo de antílopes com chifres longos) e avestruzes. E, é claro, também podiam pescar carpas, bagres, enguias e tainhas no Nilo, além de extrair suas ovas.
Uma curiosidade é que, em geral, aparentemente os egípcios preferiam carne de outros animais em vez de peixe, e alguns sacerdotes eram proibidos de consumir determinados tipos de peixe; faraós também o consumiam pouco. Ainda assim, a pesca era bastante difundida, sendo praticada com arpões, anzóis, fios de pesca e redes de arrasto.
Ainda segundo o National Geographic, os egípcios consumiam uma variedade de ovos surpreendente, que incluíam pelicanos, avestruzes, codornizes, e até outras aves selvagens que criavam ninhos às margens do Nilo.
Esses ovos eram cozidos em gorduras animais, como manteiga ou banha de ganso, ou então gorduras vegetais, como o óleo de gergelim, linho, rábano e, em ocasiões mais raras, azeite.
E eles tinham até mesmo doces: os cidadãos comuns adoçavam o pão com tâmaras cozidas, alfarrobas, figos e passas. Já os mais ricos tinham acesso a um produto de luxo: o mel.
Há milênios, na época dos faraós, os antigos egípcios já tinham sua cultura gastronômica bastante característica. Agraciados pelo rio Nilo, eles podiam plantar uma ampla variedade de grãos, que utilizavam para produzir pães, além de vários outras frutas e legumes. Além disso, também valorizavam produtos de origem animal, como leite e queijo de ovelhas e cabras, ovos, peixes, e outros animais de caça, como órix, avestruzes e até hipopótamos.