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Notícias / Holocausto

Sobrevivente do Holocausto, que se escondeu na Berlim nazista, morre aos 100 anos

Nos últimos anos de sua vida, Walter dedicou-se a compartilhar sua história com os jovens, para que as atrocidades do passado nunca fossem esquecidas

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 23/04/2025, às 15h15

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Walter Frankenstein - Reprodução/Museu Judaico de Berlim
Walter Frankenstein - Reprodução/Museu Judaico de Berlim

Walter Frankenstein, que sobreviveu ao Holocausto escondido com a esposa e os filhos em plena Berlim nazista, faleceu aos 100 anos. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se a compartilhar sua história com os jovens, para garantir que as atrocidades do passado nunca fossem esquecidas.

A notícia foi confirmada na última terça-feira, 22, por Klaus Hillenbrand, amigo próximo de Frankenstein e autor de um livro sobre sua vida. A Fundação Memorial do Holocausto em Berlim também confirmou a morte, ocorrida na segunda-feira, 21, em Estocolmo, na Suécia.

Trajetória

Frankenstein nasceu em 1924, na cidade de Flatow — então parte da Alemanha, hoje na Polônia. Em 1936, três anos após a ascensão de Hitler, ele foi proibido de frequentar a escola pública por ser judeu. 

Com a ajuda da família, mudou-se para Berlim, onde pôde continuar os estudos e formou-se como pedreiro na escola da comunidade judaica local. Lá, conheceu Leonie Rosner, com quem se casaria mais tarde.

Em 1938, Frankenstein testemunhou a Kristallnacht — a "Noite dos Cristais Quebrados" — quando centenas de sinagogas foram incendiadas, milhares de lojas judaicas foram destruídas e dezenas de judeus assassinados. 

Aos 14 anos, subiu no telhado do orfanato onde vivia e viu as chamas iluminarem a cidade. “Na manhã seguinte, havia estilhaços de vidro brilhando por toda parte nas ruas”, lembrou ele, em uma entrevista à Associated Press.

A partir de 1941, foi forçado a trabalhar em Berlim, sempre sob o risco de deportação. Em 1943, logo após o nascimento do primeiro filho, Peter-Uri, ele e Leonie decidiram se esconder. 

Por 25 meses, viveram clandestinamente com o bebê e, depois, com o segundo filho, Michael, que nasceu em 1944, eles abrigaram-se em casas de amigos e em prédios bombardeados.

Dos cerca de 7.000 judeus que se esconderam em Berlim, apenas 1.700 sobreviveram. Quando a cidade foi libertada pelo Exército Vermelho, em 1945, os filhos de Frankenstein estavam entre as 25 únicas crianças judias sobreviventes na capital alemã. Antes da guerra, Berlim tinha a maior comunidade judaica da Alemanha, com mais de 160 mil pessoas. Ao final do conflito, restavam apenas cerca de 7 mil.

Após a queda do regime nazista, a família Frankenstein imigrou para a então Palestina, mais tarde Israel. Em 1956, mudaram-se para a Suécia, onde se estabeleceram definitivamente. 

Walter, no entanto, nunca deixou de voltar à Alemanha. Ao longo dos anos, fez inúmeras visitas ao país, especialmente para conversar com estudantes sobre sua trajetória e as lições do Holocausto.

Em 2014, foi condecorado com a Ordem do Mérito da Alemanha, a mais alta honraria do país. Sempre que viajava a Berlim, levava a medalha com ele — guardada na mesma caixa azul onde, sob a tampa, ele colou a estrela amarela que teve de usar durante o regime nazista. “A primeira me marcou, a segunda me honrou”, disse Frankenstein em depoimento à época.

Frankenstein também era torcedor apaixonado do Hertha Berlin. Na juventude, assistia aos jogos, mas passou a ouvi-los no rádio quando os judeus foram banidos dos estádios

Em 2018, o clube o homenageou tornando-o membro honorário, com o número 1924 — seu ano de nascimento. A vida de Walter Frankenstein é um testemunho de resistência, coragem e dedicação à memória. Sua história continuará a inspirar gerações.

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