Em maio de 1998, Francys Arsentiev entrou para a história ao chegar ao cume do Monte Everest sem ajuda de oxigênio; mas aventura terminou em tragédia
Publicado em 26/06/2025, às 18h00 - Atualizado em 27/06/2025, às 08h26
Por todo o mundo, existem pessoas que tomam com grande paixão para a vida o montanhismo, explorando os diferentes montes que existem por todos os continentes. Porém, existe um monte específico em que o coração de todos os montanhistas se convergem: o Monte Everest, a montanha de maior altitude do planeta.
Com o pico a uma altura de impressionantes 8.849 metros acima do nível do mar, ele está localizado na cordilheira dos Himalaias, e é um dos maiores desafios àqueles que tentam alcançar seu topo. Afinal, em suas áreas mais altas, a natureza é uma força inigualável, com temperaturas que podem cair até 71 graus Celsius negativos, além de o ar ser mais rarefeito e a pressão atmosférica ser baixa, que o deixa com menos oxigênio.
Essas condições extremas, porém, não afugentaram a todos. Os primeiros a conseguirem chegar ao topo do Everest e retornar com sucesso foram Edmund Hillary e Tenzing Norgay, em 29 de maio de 1953. Mas tanto antes quanto depois deles, muitos outros já tentaram — e sucumbiram ao grande monte.
Na escalada, os alpinistas não só enfrentam a dura jornada, como ainda se deparam com um cenário macabro. Em meio à vastidão branca, não é incomum encontrar os corpos de alpinistas que morreram na jornada e, devido ao difícil acesso do local, permaneceram lá — às vezes por décadas.
E em maio de 1998, ocorreu justamente uma destas histórias, que ficou muito lembrada como a da "Bela Adormecida" do Monte Everest: Francys Arsentiev. Confira os detalhes de sua saga trágica rumo ao topo do mundo!
Nascida em 18 de janeiro de 1958, a americana Francys Arsentiev apreciava explorar montanhas ao lado do marido, Sergei Arsentiev — com quem tinha um filho, Paul Distefano, que tinha 11 anos na época da tragédia —, mas passava longe de ser uma aventureira obsessiva ou uma alpinista profissional.
Sergei, no entanto, já era conhecido como "o leopardo das neves" por já ter escalado os cinco picos mais altos de sua terra natal, na Rússia. E em certo momento, juntos, o casal decidiu encarar uma das maiores aventuras possíveis para qualquer montanhista: chegar ao cume do Everest sem oxigênio suplementar.
Para a surpresa geral, no dia 22 de maio de 1998, em seus 40 anos, Francys Arsentiev entrou para a história ao ser a primeira mulher americana a alcançar o cume do Everest sem oxigênio suplementar. Mas infelizmente, é impossível dizer que a jornada foi um completo sucesso.
Certamente, um dos maiores desafios que Francys e Sergei se submeteram foi a ideia do oxigênio auxiliar. Enquanto estavam acima de 6.000 metros, já em uma zona considerada perigosa do Everest, precisavam se mover lentamente e com pouco oxigênio, por muito tempo, o que os deixou extremamente fatigados e desorientados.
Ainda assim, eles conseguiram alcançar o cume, e puderam fotografar o momento. Mas, ao descerem, em meio à escuridão, eles acabaram se perdendo, e precisaram tentar descer por si próprios; com isso, Francys se encontrava agora perdida e sozinha no topo do Everest.
Algum tempo depois, outro casal de alpinistas que tentava chegar ao cume, os uzbeques Ian Woodall e Cathy O'Dowd, se chocaram ao encontrar o que, inicialmente, pareceu mais um corpo congelado do trajeto. Mas quando chegaram mais perto, perceberam que aquela mulher era Francys — eles tinham se conhecido antes, no acampamento base —, e que ela ainda estava viva, embora sofrendo espasmos violentos.
No entanto, certamente Francys já havia ultrapassado seus próprios limites. Conforme o casal lembrou posteriormente, ela estava deitada e só conseguia repetir três frases quando a encontraram: "não me deixe", "por que você está fazendo isso comigo" e "sou americana". Embora estivesse consciente, ela já não estava mais lúcida, e apenas repetia as mesmas frases "como um disco arranhado".
Francys já havia sucumbido ao congelamento, que já tinha deixado a pele de seu rosto dura e branca — em vez de distorcido como em muitos outros casos, com manchas vermelhas —, lhe conferindo traços quase como de uma estátua de cera. Tanto que, após isso, O'Dowd comentou que ver Francys parecia como ver a Bela Adormecida, deitada na neve.
Mesmo que a tenham encontrado com vida, já era tarde, e por isso Woodall e O'Dowd tiveram que tomar a decisão mais racional e menos sentimental, naquela situação: abandonarFrancys no local — afinal, caso eles tentassem levá-la de volta, talvez ela ainda não poderia ser salva, e também colocariam suas próprias vidas em risco, repercute o All That's Interesting.
Vale mencionar ainda que Sergei até chegou a descer do Everest com sucesso, e quando o casal de alpinistas uzbeques descia de volta ao acampamento, o viram subindo a montanha carregando remédios e oxigênio, para tentar encontrar sua esposa e resgatá-la.
Lamentavelmente, essa foi a última vez que ele foi visto com vida — seu corpo foi descoberto em 1999, por alpinistas em uma expedição, e até hoje não se sabe exatamente as circunstâncias de sua morte.
Por quase nove anos, Francys permaneceu no mesmo lugar em que Ian Woodall e Cathy O'Dowd a encontraram, antes de finalmente ter um enterro minimamente digno.
Foi só em 2007 que, assombrado pela imagem que permaneceu em sua mente da mulher, Woodall liderou uma expedição até o local, para dar finalmente a Francys um enterro mais digno.
Ainda não era viável descer o corpo, mas ele e sua equipe o localizaram, envolveram-no em uma bandeira dos Estados Unidos, e a levaram para longe de onde qualquer câmera poderia encontrá-la.
Até hoje, a tragédia da "Bela Adormecida" do Everest é uma das mais assombrosas conhecidas daqueles que exploraram o ponto mais alto do mundo. Fato é que Francys Arsentiev conseguiu entrar para a história, e pelo menos pôde descansar em paz, no fim.