Descubra como uma decisão do Papa Gregório XIII alterou o tempo como o conhecemos — e por que isso ainda afeta seu celular hoje
Nos últimos dias, uma publicação viral no X (antigo Twitter) deixou milhões de pessoas confusas: um usuário percebeu que, ao voltar o calendário do iPhone até outubro de 1582, os dias saltavam de 4 para 15.
O que diabos aconteceu em outubro de 1582?", questionou, na publicação que ultrapassou 49 milhões de visualizações.
What the fuck happened in October 1582 pic.twitter.com/hc5kN0lSON
— Ivy⸆⸉ (@idkwahatimdoing) May 16, 2025
Logo, milhares de internautas responderam: "Isso significa que todos nós estamos 10 dias mais velhos?", disse um; "isso deve ser uma falha técnica da Apple", apontou outro. "Você não se lembra?", questionou um terceiro, em tom mais descontraído.
A verdade é que não se trata de nenhum erro por parte do sistema operacional. Então, se você é usuário de iPhone, fique despreocupado. O responsável pelo 'salto temporal' é outro: o papa Gregório XIII. Entenda!
Pouco antes de ser assassinado, o ditador romano Júlio César implementou o que viria a ser conhecido como Calendário Juliano, em 46 a.C., — o calendário antigo mais parecido com o que usamos atualmente
O Calendário Juliano era inspirado pelos astrônomos egípcios, substituindo o antigo calendário lunar por um baseado nos movimentos da Terra ao redor do Sol.
O novo calendário consistia em um ano de 365 dias e 6 horas, que por sua vez era dividido em 12 meses entre 30 e 31 dias — exceto fevereiro, que tinha 28 dias, assim como o padrão atual que usamos.
Mas apesar das semelhanças, existe um grande porém nisso tudo: o ano não possui 365 dias e 6 horas, mas sim 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Ou seja, o Calendário Juliano era 11 minutos e 14 segundos maior que o tempo gasto pela Terra para dar uma volta em torno do Sol. Mas essa pequena diferença realmente faz diferença?
Passado de um ano para o outro, a mudança será quase imperceptível. Mas imagina o que aconteceria com uma somatória desse tempo ao longo de cerca de 1.500 anos? É ai que entra o papa Gregório XIII nessa história. Afinal, em 1582, a diferença se tornou maior do que 10 dias.
Essa diferença pequena fazia com que o calendário mudasse um dia a cada 314 anos, mais ou menos. Assim, em meados do século 8, estudiosos cristãos já estavam preocupados com a falta de sincronia da marcação com a passagem real das estações. Os equinócios e solstícios já não batiam com as datas esperadas.
Além disso, o calendário correto é extremamente importante para a determinação dos feriados religiosos. Um exemplo disso é a Páscoa, que acontece sempre no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia ocorrida depois do Equinócio de Primavera no Hemisfério Norte.
Em 1582, os equinócios e solstícios estavam ocorrendo com uma diferença de 10 dias do calendário. Algo precisava ser feito. É aí que GregórioXIII entra em ação. Como principal figura da Igreja Católica e grande autoridade do mundo ocidental, ele decidiu mudar o calendário. O Calendário Gregoriano, que usamos até hoje, tem a óbvia homenagem a sua figura. Mas nem tudo foi tão simples.
Para chegar na marcação que usamos hoje, foram necessários estudos feitos pelo astrônomo italiano Luigi Giglio, pelo escritor espanhol Pedro Chacón e pelo jesuíta e matemático alemão Cristóvão Clavius. Eles estabeleceram que para fazer o equinócio da primavera voltar a acontecer em 21 de março, seria necessário tirar o erro de 10 dias existentes no calendário.
Assim, em 1582, foi promulgada a bula papal Inter Gravíssimas, que retirou o período entre os dias 5 e 14 de outubro daquele ano. Para entender o que causou a mudança, segundo o El País, a freira Santa Teresa de Jesus, conhecida por fundar a Ordem das Carmelitas Descalças, faleceu no dia 4 de outubro de 1582 e foi enterrada no dia seguinte: 15 de outubro.