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Matérias / Igreja Católica

Cunhaú e Uruaçú: Os massacres que levaram Francisco a canonizar 30 brasileiros

Em 1645, colonizadores holandeses realizaram massacres cujas vítimas foram canonizadas por Francisco como os 30 primeiros santos mártires do Brasil

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 07/05/2025, às 17h00

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Papa Francisco e monumento aos mártires - Getty Images / Licença Creative Commons/Carla Salgueiro
Papa Francisco e monumento aos mártires - Getty Images / Licença Creative Commons/Carla Salgueiro

Hoje, o mundo todo acompanha com grande atenção os desenrolares do conclave, que promete determinar nos próximos dias o novo papa, sucessor de Francisco. Falecido no último dia 21 de abril, Francisco foi o primeiro papa da América do Sul — proveniente da Argentina —, e em seus 12 anos de papado foi lembrado por posturas reformistas e consideradas inclusivas para a Igreja Católica.

E para nós, brasileiros, uma medida bastante significativa tomada por Francisco se deu em 2017, quando ele canonizou 30 novos santos para o Brasil. Na ocasião, os descreveu como "os primeiros santos mártires do Brasil", em decorrência de dois massacres ocorridos no Rio Grande do Norte pelas mãos dos colonizadores holandeses, que dominaram o nordeste brasileiro no século 17.

Conhecidos como "mártires de Cunhaú e Uruaçú" — nomes de localidades que, hoje, correspondem aos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante —, esses santos foram inicialmente beatificados pelo papa João Paulo II em 2000 e, em 2017, finalmente canonizados por Francisco.

Massacres

Conforme repercutiu a BBC na época da canonização, os 30 novos santos são os únicos mortos que foram identificados em dois massacres que, ao todo, vitimaram cerca de 150 pessoas. Esse episódio é um dos mais emblemáticos da história católica do nordeste brasileiro, visto que, segundo a Igreja, as teriam "dado a vida, derramado o sangue, na vivência de sua fé".

O primeiro massacre foi registrado em Cunhaú, no dia 16 de julho de 1645. Na ocasião, 70 pessoas foram assassinadas em uma retaliação holandesa aos seguidores da fé católica, que rejeitavam converter-se ao calvinismo, movimento religioso protestante que os holandeses difundiam.

No livro 'Beato Mateus Moreira e seus companheiros mártires', escrito pelo Monsenhor Francisco de Assis Pereira, o autor explica que os holandeses contaram inclusive com a ajuda de indígenas para invadir a capela, fechar as portas e matar quem estivesse ali dentro, em uma manhã de domingo.

O segundo massacre, por sua vez, ocorreu no dia 3 de outubro do mesmo ano: outras 80 pessoas, dessa vez às margens do rio Uruaçú, foram despidas e assassinadas por não se converterem ao protestantismo. Neste ataque, até mesmo crianças foram assassinadas, incluindo uma com apenas dois meses de vida, morta com uma irmã e o pai.

Neste segundo grupo, uma figura de destaque é o camponês Mateus Moreira, que se tornou um símbolo especial do martírio, pois, antes de morrer — ao ter o coração arrancado pelas costas —, bradou: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento". Isso foi marcado em sua história como uma prova incontestável de sua fé e devoção, na visão católica.

Monumento aos Mártires, localizado em São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte / Crédito: Licença Creative Commons/Carla Salgueiro

Os mártires

Nessa época, meio do século 17, a presença da Igreja Católica no nordeste brasileiro já era, nas palavras de Monsenhor Pereira, "marcante". "Havia padres seculares (padres pertencentes a dioceses), numerosos conventos de franciscanos, carmelitas, jesuítas e beneditinos. Eram mais de 40 mil católicos".

Os holandeses só chegaram na região na década de 1630, primeiro em Pernambuco, onde assumiram o comando político e militar e, eventualmente, estenderam seu domínio a outras capitanias — entre elas, a do Rio Grande, antigo nome do Rio Grande do Norte.

Nessa passagem, eles tentaram disseminar o calvinismo, e com isso perseguiam e assassinavam adeptos do catolicismo — enquanto, em paralelo, em outra parte do mundo, era a Igreja Católica que ainda perseguia, julgava e punia acusados de heresia, com a Inquisição.

Os 30 santos mártires contam com um total de 25 homens — dos quais, dois eram padres — e cinco mulheres. O grupo conta com 16 adultos, 12 jovens e duas crianças, sendo a mais nova o bebê de dois meses já mencionado.

"A identificação dos canonizados não se dá tanto pelos nomes, mas também por identificação de parentesco e de amizade (das vítimas)", explica o padre Julio Cesar Souza Cavalcanti, responsável pelo encaminhamento da canonização dos mártires da Arquidiocese de Natal, à BBC.

Papa Francisco / Crédito: Getty Images

Canonização

Quando se fala sobre processos de canonização na Igreja, muitos já sabem da necessidade de se comprovar milagres relacionados ao candidato, que já precisa ser beatificado. E embora os mártires de Cunhaú e Uruaçú possuam muitos devotos, nesse caso, sequer foram necessários milagres para fundamentar a canonização.

O papa Francisco, quando decidiu pela canonização com a dispensa do milagre, colocou como um ponto básico (para a aprovação) a antiguidade do martírio e a perpetuidade da devoção do povo aos mártires", explica o padre Julio à BBC.

Dessa forma, o papa reconheceu a santidade do grupo através do processo de equipolência, cumprindo com três requisitos: a prova da constância e da antiguidade do culto aos candidatos — o que eles tinham, especialmente no Rio Grande do Norte —; o atestado histórico incontestável de sua fé católica e, por fim, sua virtude e amplitude de sua devoção.


Mártires de Cunhaú e Uruaçú

Em 2017, o papa Francisco canonizou como santos os conhecidos como "mártires de Cunhaú e Uruaçú", os primeiros santos mártires do Brasil. Eles foram vítimas dos holandeses em 1645, que se recusaram a abandonar a fé católica e converter-se ao calvinismo, e por isso teriam "dado a vida, derramado o sangue, na vivência de sua fé", tornando-os dignos da santidade.

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